sexta-feira, 28 de junho de 2013

Você sempre cairá de bicicleta. Assuma!


bicicletaEu e bicicletas nunca fomos muito amigas.
Aliás, eu e bicicletas sempre vivemos em pés de guerra. Para mim, bicicletas são brinquedos malditos, intransigentes e cruéis que aguardam um momento da minha desatenção para destruir minha dignidade.
Sou filha de um casal de professores que constituem uma mistura peculiar de hippies com cristãos reformados. Desde pequena, fui forçada a cumprimentar todas as pessoas, a participar de cultos domésticos, a ler a Bíblia em uma base diária e sistemática e a comer arroz integral, coisas que meus pais consideram essenciais para a realização plena de um ser humano. Algumas dessas atividades tornaram-se naturais e até mesmo prazerosas, e certamente serão transmitidas aos meus filhos. Porém, eles ainda tinham uma imposição inflexível: todos os seus filhos deveriam aprender a andar de bicicleta.
Resisti a aprender a dominar os pedais de uma bicicleta até os 15 anos. Mesmo depois de dominá-los, eu e os pedais ainda ficamos muito longe de sermos amigos. Perdi o equilíbrio sob a bicicleta algumas várias vezes, e meus 176 centímetros de altura fazem esses tombos serem no mínimo espalhafatosos. Em todas as situações em que eu me forçava a superar o medo e encarar a magrela, a minha única motivação era o orgulho de não deixar que um objeto inanimado me vencesse. Enquanto me concentrava em não cair da bicicleta, achava incompreensível que alguém achasse “divertido” andar naquela coisa opressora e ameaçadora.
Não sei bem o porquê, mas hoje foi diferente. Resolvi de novo encarar meus medos e acompanhar meus pais em um passeio de bicicleta por uma trilha em no parque central da cidade. Os dois me encheram de equipamentos de segurança, que iam de luvas até capacete e óculos protetores. Respirei fundo para sentir o cheiro das árvores frutíferas e fechei os olhos apreciando o vento soprando sob o meu rosto. Surpreendi-me: eu não estava tentando não cair.
Aprendi com a bicicleta que você pode escolher a forma com que trilhará a sua jornada: cuidando ao máximo para chegar ao destino sem cair, ou deliciando-se com cada etapa e surpresa do caminho. E atenção: só é possível escolher uma opção.
Quem não observa o mundo a sua volta e aprende a apreciar os presentes que Deus escondeu nele, estagna. E quem estagna, regride. Em algum lugar de Provérbios está escrito: “Até no riso, tem dor o coração”.  Engraçado. Vivemos sonhando com o dia em que seremos completos. Sonhando com aquele momento idílico em que estaremos perfeitamente em paz, em que encontraremos alívio, em que seremos amigos de Deus.  Vivemos nos preparando para esse dia. Vivemos atentos para não deixar qualquer coisa em nós atrapalhar isso. Mas, quer saber? Você não precisa ter todas as circunstâncias perfeitas para que aproveite tudo o que Deus tem a te oferecer. Talvez o medo de cair roube de nós todo o encanto do caminho.
Esse medo excessivo de errar rouba a paz de desfrutarmos em descanso daquilo que Ele é. Um coração assustado nunca conseguirá contemplar Deus. Quando o salmista diz no salmo 131 que sua alma é como uma criança desmamada, ele afirma que fez calar todas as vozes exteriores e interiores e está diante de Deus isento de preocupações, medos ou exigências. Santa Terezinha definiu bem este estado de entrega quando afirmou que “ser pequeno é não desanimar com as faltas próprias, pois as crianças caem com frequência, mas são demasiado pequenas para machucar-se seriamente”.
Não, eu não gosto de cair. Cair dói. Cair é vergonhoso, faz a gente ficar sem vontade de tentar de novo. Mas, veja bem: você vai cair de qualquer jeito. A tensão de manter-se sempre ereto, sem sequer virar para o lado não anula o fato de que você é humano, e humanos caem. Na verdade, estamos aqui por isso: porque um dia, o primeiro ser humano caiu. Independente de sua postura acerca das circunstâncias, você vai cair, e vai se machucar. Porém, Deus veio em forma de ser humano para ajudar aos que caíram. Para levantá-los, para curar suas feridas. A única forma de não machucar-se não é enrijecer-se diante da vida, mas entregar-se ao Pai que cuida de seus ferimentos. O segredo desta jornada é segurar nas mãos dEle, dar passos pequenos e aproveitar a vista!

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Náufragos


ondaNo mar da vida o desejo de todo ser humano é de sempre nadar em águas tranquilas, pois águas agitadas geram instabilidade e medo do desconhecido, afinal, quem é que se sente confortável em meio a uma situação na qual não se tem o controle?
Sejamos francos, quantas vezes oramos a noite para que o Senhor nos direcione e nos ajude a encontrar uma solução, mas no dia seguinte, levantamos cheios de planos, atalhos, jeitinhos…? A verdade é que sempre encontramos uma forma de nos aventurarmos em mares distantes, às vezes por curiosidade apenas, outras por ansiedade e vontade de achar um caminho mais prático, ou ainda por teimosia, desobediência.
Deus nos proíbe de nadar em determinadas águas porque ele sabe que tal atitude implica em autodestruição. Não são poucas as vezes que julgamos ser experientes o bastante e então saímos por aí nadando nas nossas próprias escolhas. Tudo acontece de forma tão sutil que, sem perceber, negligenciamos pouco a pouco a “boia salva vidas”, a palavra de Deus. Deixamos nos levar pelas fortes correntezas dos desejos, sonhos, projetos pessoais e convicções humanas.
De repente, encontramo-nos como verdadeiros náufragos!
Cedo ou tarde as tempestades nos alcançam e a sensação é que nossa vida vira de cabeça para baixo, circunstâncias adversas se levantam contra nós e algumas certezas que possuíamos são levadas pelo vento. Nessas horas já não sabemos como resolver ou o que fazer para cessar tamanha chuva.
Quando sentimos que estamos naufragando, o pânico toma conta do nosso ser, a nossa visão torna-se embaçada, o frio insuportável penetra a nossa pele e nos tornamos incapacitados de enxergar a mão do Senhor estendida em nossa direção. É por isso que, em alguns momentos, é necessário que Deus permita que nos afoguemos para aprendermos a nos assegurar unicamente nele. Tal atitude faz parte do cuidado de um Pai para com os seus filhos.
Está cansado de nadar pelas suas próprias forças? Pare e Confie! O mar está violento? Olhe apenas para Cristo!
Ao ler Mateus 14.25-32, percebemos que Pedro conseguiu dar algumas passadas sobre as águas enquanto estava focado unicamente no Senhor Jesus, porém, quando ele olhou para as circunstâncias em sua volta, o temor dominou seu coração e então, como o texto muito bem apresenta, ele afundou. Quem nunca foi um Pedro nas tribulações da vida? Encontramo-nos tão desesperados que só sabemos gritar: Salva-me! Mas a fé verdadeira, onde está?
Fé é uma palavra de uma sílaba só, duas letras apenas, que firmadas naquele que subsisti para todo sempre reproduz consequências eternas. É esta fé que nos faz contemplar naquele imenso mar escuro e tempestuoso um farol reluzente que norteia a nosso caminho de volta, fazendo com que os perdidos sejam achados. Portanto, independente de como as nossas vidas encontram-se nesse momento é para esta luz que devemos fitar os olhos, pois é no nosso Senhor que encontramos segurança em meio às crises, fé para superarmos as barreiras do medo, esperança de que a chuva cesse, e certeza de que por traz das nuvens negras existe um sol que brilha.